O SENHOR DAS CRÔNICAS (ATUALIZADO)

O SENHOR DAS CRÔNICAS (ATUALIZADO)
"Seu conceito sobre literatura"

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

OITO MIL CRUZEIROS

Eu sempre fui abandonado. Nunca tive família e ao sentir fome,tive de recorrer às casas de apoio.Como se não bastasse tal humilhação,sofria com as crianças ricas me batendo.Até que em um belo dia,um casal adotou-me.
Ele era banqueiro e ela, juíza. De fome eu não morreria. Compraram-me roupas, sapatos. Tudo o que um bom filho precisava. De nada adiantou. Passavam o dia fora de casa e quando chegava, eu já estava dormindo.
Quando fiz treze anos de idade, cometi minha primeira idiotice: Fugi deixando um rombo de oito mil cruzeiros. Eu era jovem, pensava que a vida seria simples. Os oito mil cruzeiros mudaram-me a vida. Comprei uma passagem para New York city, precisamente para a Wall Street.
Vivia de esmolas na bolsa de valores. Um empresário inglês, percebendo minha freqüência naquele local, lançou-me um olhar e disse: ”You drive me crazy!”. Só vinte e três anos depois descobriram que ele era homossexual e que a frase significava: ”Você me deixa doido!”.
As semanas em New York passavam-se rápido. Por volta da quinta semana na bolsa, uma mulher de uns vinte e cinco ou vinte e seis anos, convidou-me para morar junto a ela. Aceitei no ato e passamos a dividir um belo “flat” em Miami. Eu não duraria muito em Miami não fosse um erro no sistema do banco, até hoje não descoberto. Todas as vezes que eu sacava oito mil cruzeiros, o banco depositava mais oito mil cruzeiros na minha conta bancária.
Comecei a sacar, desesperadamente, oito mil dólares semanais. Com treze anos, comprei mansões e carros. Fui considerado o homem mais rico de Miami em 1997. A garota com quem eu estava morando, casou-se comigo e fomos para a Espanha. Seu nome era Hana.
Passei os três mais belos anos de minha vida em Madrid. Agora os oito mil dólares pareciam uma droga. Eu sacava todos os dias. Tinha dezesseis anose ganhava uns quinze mil dólares mensais. Hana mudou-se para Londres após uma discussão. Não sabia eu que ela já carregava um filho meu em seu ventre.
Mudei de endereço milhares de vezes. Agora chegavam cartas do banqueiro e da juíza perguntando como eu estava. Nunca foram respondidas. Um dia, andando em uma moto, caí e perdi o movimento das pernas para sempre. Logo eu, que gozava dos meus vinte e dois anos.
Saiu em todos os jornais de Madrid a notícia do meu acidente. Vendi tudo o que eu tinha e voltei para o Brasil. Lá, encontrei o banqueiro. Estava triste.Havia separado-se da juíza.Perguntei o motivo da separação e ele disse:
-Foram oito mil dólares que eu mandava mensalmente para o meu filho!
Depois disso,eu o abracei.

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