Na esperança de espantá-los daquele recinto, fui passando várias pessoas na frente e sempre, ao fim do horário, pedia que voltassem no outro dia. Comecei a notar que eles sempre pegavam uma “carona” com André. Decidi atendê-los dois dias depois, na minha casa.
Chegaram bem na hora do almoço. Que surpresa!Quando consultava os pacientes em minha casa, sempre chegavam a cima de uma refeição, visando somente o pecado da gula. Pensam que só porque sou médico sou rico. Pois estão errados!
Almoçamos. Ficamos mudos por algum tempo, até que forcei os velhinhos a abrirem o jogo. Um velho jogo de xadrez, que havia emperrado no meu aniversário de quatorze anos. Já jogando, para manter a comunicação, pedi ao casal que se comunicasse via bilhete. A cada jogada de xadrez, bilhetinhos eram escritos como: ”Pega essa!”, ”Seu otário”, ”Olha minha jogada” e todos precedidos de um palavrão, aleatoriamente escolhido pelos velhos.
Aquela tarde não me rendeu nada. Mas, ao menos, Aprendi com os velhos a jogar um bom xadrez, além da promessa escrita que a velha escreveu jurando ensinar-me a jogar poker.Foram embora á noite,levando alguns pastéis que minha esposa Silvinha havia preparado para os meninos.Assim que saíram,Silvia veio com várias perguntas e disse que queria o divórcio.
Dois meses depois, eu estava divorciado devido a dois pasteizinhos. E o mais interessante foi que quem fez o divórcio foi o velho. O infeliz era advogado!
Separado e infeliz, os velhinhos começaram a cuidar de mim. Caí na bebida. Quando eu chegava dos bares lá estavam os dois, contando piadas via bilhete. Enquanto um escrevia a piada, o outro escrevia o “risos! Risos!”. Que saco!Nem o pior momento de minha vida me respeitou. Até que em um dia, engasgada com um caroço de manga, a velha morreu. Foi triste. O velho gritava sons incompreensíveis. Muita emoção no enterro e a partir daí, o velho só escrevia no papel: ”snif!snif”
Passou-se dois anos, o velho parou de escrever. Entregou-se ao mundo. Saía bêbado, chegava bêbado (Com mulheres!). Era o velho mais feliz do mundo. Não parava de sorrir.Só alguns meses depois descobri que tinha feito uma cirurgia plástica.De tanto sorrir,saiu em uma emissora de televisão.O nome do programa era “Faça o velho chorar”.Ninguém nunca o fez chorar,nem com a história de amor,que a senhora Nadja sabia.Ganhou o prêmio máximo de dois milhões de reais.Antes de morrer ele deixou um último bilhete onde estava escrito:Obrigado!
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